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abre solanoCentro Cultural Solano Trindade comemorou seus 20 anos de fundação em Sessão Solene realizada na Câmara Municipal. Foto: Oscar Jupiraci.

Na noite de quinta-feira, 08 de novembro, foi comemorado o 20° aniversário de fundação do Centro Cultural Afro-Brasileiro Francisco Solano Trindade em solenidade recepcionada no Plenário Tereza Delta. A sessão solene foi presidida pela vereadora Ana Nice Lula e realizada nos termos da Resolução n° 3.177, de 26 de setembro de 2018, de autoria da própria vereadora.

Compuseram a mesa de honra: vereadora Ana Nice; Luiz Marinho, ex-prefeito de São Bernardo do Campo e presidente estadual do Partido dos Trabalhadores (PT); Nelson Rodrigues Rocha, representando a Fundação Solano Trindade; Roseli Audrelina Del Bosque, ex-educanda do Centro; Wagner Santana, representando os funcionários da Volkswagen do Brasil; Benedita Aparecida Cabral, mãe de educanda do Centro; José Wilton Fernandes Duarte, gerente de relações trabalhistas da Volkswagen do Brasil; Teonilio Barba, deputado estadual; Tião Mateus, vereador da casa; Anderson Alves da Silva, ex-educando do Centro e Neia Bueno, representando o Terre des Hommes.

Durante seu pronunciamento, Ana Nice destacou a responsabilidade e sensibilidade do Centro para com as crianças e adolescentes atendidos. “Permite que essas crianças possam sonhar, possam ter acesso à arte por meio da música e da capoeira (...). Tira as crianças da invisibilidade, principalmente as que estão em situação de rua ou onde não tem uma presença forte do Estado para poder garantir seus direitos”, declarou a vereadora. A parlamentar também ressaltou o papel social fundamental do Centro e de seus idealizadores e parceiros ao ocupar o tempo dos jovens com oficinas, afastando-os do assédio da criminalidade.

discurso ananice“Ao ocupar o tempo desses jovens com atividades, o Centro Cultural Francisco Solano Trindade garante a cidadania dessas crianças e adolescentes ao afastá-los do assédio da criminalidade”, comentou a vereadora. Foto: Oscar Jupiraci.

nelson rocha“É muito gratificante ouvir o depoimento de ex-educandos e pais de ex-educandos, da transformação que foi na vida deles. É emocionante ver o talento revelado daquelas crianças em uma comunidade que não teria a oportunidade de ter aula de música, de capoeira, de futebol”, comentou Nelson Rodrigues Rocha, representando o Centro Solano Trindade. Foto: Oscar Jupiraci.

vagner santana“É gratificante ver que nós fomos de alguma forma responsáveis pela transformação dessas pessoas, pela contribuição de quem às vezes não encontra sozinho o caminho certo. A solidariedade é o maior espírito do projeto”, mencionou Wagner Santana, representando os funcionários da Volkswagen. Foto: Oscar Jupiraci.

Depoimentos de participantes

Durante a sessão, ex-educandos do Centro Cultural deram seu depoimento para falar sobre sua passagem pelo Centro. Roseli Audrelina Del Bosque participou do início das atividades, no Riacho Grande. “Quando eu cheguei no Solano, estava desintegrada da minha família, não vivia com a minha mãe e meus irmãos. O Solano me reintegrou à minha família (...). Teve um peso enorme na minha vida. Eu aprendi não apenas a dançar, a jogar capoeira, eu aprendi a ser cidadã; eu aprendi não apenas a viver em sociedade, mas a atuar. Quando meus filhos nasceram, eu vi a necessidade de ter um papel muito atuante na vida deles. Quando eles começaram a estudar, eu fui uma mãe muito atuante na Associação de Pais e Mestres. Lutei pela reconstrução da escola no nosso bairro. Hoje eu sou formada e meu irmão, que também participou, é formado. Eu sou grata e acredito que cada um que passou pelo Solano tem essa gratidão”, declarou Roseli, emocionada.

Benedita Aparecida Santos, mãe de ex-educanda agradeceu por tudo o que o Centro fez pela sua filha e por ela. “Minha filha foi muito bem recebida; lá ela era recebida por uma outra família e foi muito feliz. Ela se desenvolveu e hoje é uma moça formada”, contou Benedita.

Anderson Alves da Silva, ex-educando, veio de uma família desestruturada: sua mãe foi assassinada quando ele tinha dois anos e o pai abandonou ele e seus irmãos. Teve uma infância muito difícil, passou necessidade. “O crime sempre esteve de portas abertas para mim. Eu moro em uma comunidade onde o crime e o tráfico estão sempre de portas abertas. Mas o Solano mudou minha vida, mudou minha história. Eu falo para quem está lá hoje para dar muito valor. Eu dei valor. Hoje sou uma pessoa trabalhadora e de bem, desabafou Anderson, emocionado.

mosaico depoimentosRoseli Del Bosque, Benedita Aparecida Santos e Anderson Alves da Silva deram seu depoimento em agradecimento ao Solano Trindade. Fotos: Oscar Jupiraci.

entrega homenagensAlunos da capoeira fizeram a entrega das homenagens aos coordenadores do projeto junto à vereadora Ana Nice. Receberam homenagens: Nelson Rodrigues Rocha, Charles Aurelio de Jesus Lima, Sebastião Arlindo Vieira, Rubens Fabretti, Carlos Eduardo Strilicherk, Ivo Ramos de Araújo e José Wilton Fernandes Duarte. Foto: Oscar Jupiraci.

entrega placaJosiane dos Santos Silva e Wagner Santana receberam das mãos da vereadora Ana Nice e do ex-prefeito Luiz Marinho uma placa comemorativa do 20° aniversário da fundação do centro Cultural Afro-brasileiro Francisco Solano Trindade. Foto: Oscar Jupiraci.

apresentação solanoEducandos da oficina de Percussão do educador Ronaldo Costa encerraram a cerimônia com uma apresentação musical. Foto: Oscar Jupiraci.

Um pouco de história

O Centro Cultural Afro-brasileiro Francisco Solano Trindade foi fundado em 1998 em São Bernardo do Campo. Ele é resultado do processo de articulação e mobilização envolvendo diversos militantes do Movimento Negro, Agentes Pastorais Negros, sindicalistas ligados à sociedade organizada e às comissões de fábrica dos trabalhadores da região do ABC. Essa mobilização resultou no projeto de criação de uma entidade com um programa de ação, cuja proposta pedagógica tem como referência fundamental, a cultura afro-brasileira. Em maio de 1998, durante atividade de intercâmbio junto às Comissões de Fábrica e Sindicato IG Metall da Alemanha, o diretor do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e trabalhadores da Volkswagen, sindicalistas de São Bernardo foram consultados pelos sindicalistas alemães sobre a ideia do envolvimento dos trabalhadores da Volkswagen em projetos de apoio a crianças em situação de rua.

Quando voltaram da Alemanha, os sindicalistas de São Bernardo iniciaram contatos e discussões sobre o tema na comissão de fábrica dos trabalhadores na VW Anchieta e no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.

Através de reuniões na sede do sindicato dos metalúrgicos, esta questão foi levada à diretoria do sindicato e á coordenação da Comissão de Combate ao Racismo, que manifestou interesse em levar a questão aos sindicalistas alemães, obtendo êxito para o desenvolvimento do projeto. Após três meses de trabalho, o grupo iniciou o atendimento de crianças e adolescentes carentes da região do bairro Riacho Grande.

A proposta é desenvolver uma ação de arrecadação de fundos junto aos trabalhadores nas plantas da Volkswagen na Europa, especialmente na Alemanha, em apoio a projetos com crianças e adolescentes em situação de rua na África do Sul, Brasil e México. Como parte da iniciativa, foi estabelecido um convênio com a agência de cooperação internacional “Terre des Hommes”, cuja sede fica na Alemanha, por meio do qual seriam prestados serviços de assessoria técnica para elaboração, implementação e monitoramento de projetos. 

O trabalho nas comunidades tem o objetivo de atender as crianças e suas famílias no ambiente onde vivem, assim como fortalecer a comunidade por meio de um trabalho voltado aos direitos da criança e do adolescente e da educação para o combate á discriminação racial.